Zico espera ser
superado e agradece à torcida: 'Comprou barulho'
Galinho acha
que festa não seria a mesma se fizesse 60 anos em 2012, diz que teme a morte e
não gostaria de ver netos seguirem carreira
Foram duas
semanas agitadas para um senhor que já se encaminha para a terceira idade,
ainda que esbanje saúde e disposição. Há muito um ex-jogador beirando os 60
anos não via pela frente marcação tão dura. Pareciam zagueiros nos anos 1970 e
1980, aqueles que não o deixavam respirar. Os repórteres vestiram a camisa de
Abelão, Moisés, Miguel, René, Gentile, Figueroa, Edinho, Osmar... Agora, querem
relembrar histórias bonitas e tristes. E Zico tem tudo isso. Tem história.
Muita história para contar para os cinco netos - quatro meninos. Muitas
histórias, principalmente, sobre o Flamengo. Inesquecíveis para a torcida, mas
que entre 2011 e 2012 viveram momentos de tensão. Por causa de problemas com a
antiga diretoria, o Galinho acha que a comemoração não seria a mesma se o 60º
aniversário fosse no ano passado. E credita à sua maior aliada as homenagens
que receberá até domingo, dia 3 de março.
- A torcida comprou o meu barulho.
Entrevista Zico 60 anos
E que barulho.
Também, pudera. Só no Flamengo, o maior artilheiro da história do Maracanã, com
333 gols, balançou as redes 509 vezes. A conta se perde com os passes
açucarados para os atacantes. Impossível contar quantos gols saíram dos seus
pés. E assim Zico conquistou tudo no clube. Mundial, Libertadores, quatro
Brasileiros, uma penca de Cariocas, torneios internacionais... Tornou-se
insuperável, inatingível. A idolatria passa de pai para filho e agora para
neto. Mas, vejam só, ele torce para que um dia não seja o maior. É o lado
torcedor falando mais alto?
- Tomara que apareça alguém. Claro.
Quem é torcedor quer o melhor para o time - insistiu.
Torcedor e
jogador se misturam quando afirmou ter chorado com a torcida quando perdeu o
primeiro pênalti importante, em 1976, na final da Taça Guanabara entre Flamengo
e Vasco. Zico disse que chorou também com a nação brasileira após a derrota da
fantástica Seleção de Telê para a Itália por 3 a 2, em 1982. Quatro anos
depois, no entanto, garantiu não ter derramado uma lágrima ao perder o pênalti
defendido pelo francês Bats na Copa do México, apesar da tristeza pela
eliminação nas quartas, na mesma partida, também nas penalidades máximas.
Sim. Zico tem
história também na Seleção. Seja triste, por ter lhe faltado o título mundial,
seja alegre por ter sido o grande craque daquela geração do time de Telê que
encantou o mundo. Zico também tem história no Japão, onde foi o grande
desbravador. Se vai ganhar estátua na Gávea neste sábado, no país asiático já
tem duas. Lá, o povo também o trata com carinho e lhe deseja vida longa. Aqui,
o Galinho, que reconheceu ter medo da morte, cuida bem do coração para chegar
em forma aos 70. E poder mais uma vez relembrar as pinturas que fez com a bola.
Você está chegando aos 60 anos
bastante celebrado não só por quem o viu jogar como também por filhos e netos
dos seus fãs rubro-negros. Como vê essa festa toda?
ZICO: Acho que
esse movimento todo agora foi em função do que aconteceu na minha última
passagem no Flamengo, em 2011. Isso deixou uma tristeza muito grande na
torcida, e a torcida comprou o meu barulho. Quando eu voltei, havia uma
expectativa grande de que eu pudesse dar uma contribuição legal, e depois a
forma como tudo aconteceu mexeu com o torcedor, pelo carinho que ele tem por
mim, e com os próprios dirigentes que hoje estão aí. Acho que essa manifestação
toda foi pela tristeza que sentiram, acharam que não deveriam ter feito o que
fizeram. Não tenho dúvida disso. Esses caras que viveram muitas alegrias comigo
se sentiram também traídos, ofendidos. E quando vai se passando o tempo, as
coisas vão clareando, a gente não precisa nem falar nada. As reações são mais
emocionais, pessoas que viram que, além de saberem que eu estava com a razão,
como o clube deles que eles amam foi tratado por certas pessoas que estavam à
frente. Isso gerou uma certa comoção.
- Se tivesse feito 60 anos no ano
passado acha que não teria essa comemoração? Nem pela torcida?
- Acho que
não. Acho que 50 pode ser até mais celebrado do que 60. Por que 60? Meu
sentimento é esse, não vou esconder isso.
- Sente-se
mais amado hoje pela torcida do que era antes?
- Não por
conta disso. Talvez por estar mais perto. As pessoas estão tendo mais ações
concretas. Pelo fato de o time do Flamengo ter ficado muito distante do
torcedor, os jogadores... O pessoal sente saudades disso tudo. Começa a ver a
gente de outra forma. Quer que aquilo tudo retorne ao mundo deles.
- Acha que jamais será superado no
Flamengo?
- Tomara que
apareça alguém, porque aparecendo serão mais títulos e conquistas para o clube
(risos).
- Gostaria de ver um jogador
superando você?
- Claro. Quem
é torcedor quer o melhor para o time. Hoje é difícil ter alguém que vai
continuar tanto tempo no clube como eu fiquei, como o Marcos (Palmeiras), o
Rogério Ceni (São Paulo), o Roberto (Vasco) mesmo. É muito difícil isso. Hoje,
em termos de marcas, acho que o Léo Moura, se tivesse passado a carreira toda
no Flamengo, teria até ultrapassado a gente por causa da continuidade. Quantos
anos ele jogou em outros lugares?
- Em números,
não na idolatria...
- Lógico. Mas
o fato de você jogar só em um time cria identificação. Hoje o Léo Moura é muito
mais identificado com o Flamengo. Mas há um tempo atrás não era. Jogou nos
quatro do Rio. Mas ninguém lembra mais. Se tivesse jogado desde o início no
Flamengo, a visão do torcedor do Flamengo dele seria outra hoje. Ele jogou
muito e conquistou muito pelo Flamengo. Se o Rondinelli tivesse ficado só no
Flamengo, seria maior ainda do que é hoje por tudo o que representa. Mas o fato
de ter ido pro Vasco, de ter ido pro Corinthians, isso sempre esfria um pouco,
divide.
- Que jogadores você põe como
monstros sagrados do Flamengo, que serão também eternos?
- Tem uma
quantidade enorme de gente que será lembrada sempre. Junior, Leandro, Adílio,
Andrade, na nossa época. Pet, Adriano, mesmo mais recente... Aquela turma mais
antiga: Fio Maravilha, Zizinho, Dida, Leônidas, Domingos, Dequinha, Henrique,
Rubens, Carlinhos... No Flamengo teve muita gente que ficou... Quem ficou três,
quatro anos conseguiu fazer mais. Silva Batuta... Muita gente deixou saudade.
- Você cresceu ouvindo muita história
do seu pai, contemporâneo de muita gente. Foi importante para criar identidade
maior?
- Ah, sim.
Procurei saber de tudo da história do Flamengo. No que eu mais me ligava na
questão do futebol era o fato de o papai ter perdido a oportunidade de ter sido
o goleiro do Flamengo do primeiro tri (42/43/44). Jurandyr, que foi indicado
por ele para o gol, Domingos e Newton. Biguá, Bria e Jayme. Valido, Zizinho,
Pirillo, Perácio e Vevé. Meu pai podia ter jogado com esses caras. Sentia que o
velho tinha uma certa dor por ter indicado o Jurandyr para o lugar dele. Depois
foi o Luís Borracha. Depois veio o time com Chamorro, Tomires e Pavão; Jadir,
Dequinha e Jordan; Joel, Rubens, Índio, Henrique, Dida, Zagallo, Esquerdinha,
Evaristo... O Flamengo teve equipes que marcaram, que a gente sabia de cor. E
isso deve acontecer hoje.
- Sabe a escalação do Flamengo hoje?
- Sei porque
não estou só acompanhando, mas porque o Dorival está conseguindo repetir. Muda
pouca coisa. Ano passado, cada hora era um time.
- Em alguns
períodos de mágoa com o Flamengo, você dizia que não estava vendo mais jogos do
clube.
- Mas eu não
via mesmo. Não queria ver aquelas pessoas. Era a mesma coisa que ir à Gávea e
cruzar com três, quatro pessoas que eu não queria ver mais. Você não vai a um
lugar onde não se sinta bem.
- Gostaria de ver algum neto seu
seguir a carreira?
- Não, assim
como não gostei de ver os meus filhos. Mas eu acho que com um neto sofreria
menos que com os filhos. A pressão seria bem menor.
- Seus filhos sofreram muito com essa
pressão?
- Sofreram
muito. Thiago era mais esquentado, xingava todo mundo, brigava com todo mundo.
O Junior talvez sofresse mais por engolir mais as coisas.
- O Junior até virou torcedor do
Guarani... Acha que foi por isso?
- Sim, acho
que até teve a ver com isso.
- Em algum momento viu potencial
neles?
- Vi. Para
serem jogadores de futebol. Porque vi eles fazerem coisas que não vejo outros
jogadores fazerem. Mas não tiveram oportunidade. Se dá oportunidade a um, tem
que dar oportunidade a outro da mesma forma. Você não pode dar oportunidade a
um que é pobre e não dar ao outro que não é pobre. Por que só o cara que vem de
ônibus vai ter mais oportunidade do que quem vem de carro? Você está
discriminando.
- Como você sempre teve a vida muito
intensa, de viajar muito como jogador e treinador, se vê procurando dar mais
tempo para a família? Imagina-se daqui a 10 anos como o seu Antunes (pai de
Zico), cercado de filhos e netos contando histórias, ou acha que nunca vai ter
esse perfil por ser uma celebridade?
- Acho que a
tendência é ter cada vez mais tempo para isso. Já estou fazendo isso. Não marco
nada no fim de semana. Sábado ou domingo, se puder, nem atendo telefone. O
tempo é para eles. Hoje sou corujaço.
- Hoje se considera um técnico no
mercado ou não está mais pensando nisso?
- Sou um técnico no mercado, mas
dependendo do local. Que me dê muita condição de trabalho.
Iria para o Catar, por exemplo?
- Não, não
quero ir. No dia seguinte que o Silas saiu de um clube de lá, o cara me chamou.
Assim que o Paulo Autuori saiu (da seleção do Catar) me ligaram. Eu só
aceitaria se fosse Europa, mas que me desse condição para fazer um bom
trabalho.
No Iraque havia a possibilidade de
você participar da Copa no Brasil. Agora se vê com chances?
- Não. Só como
torcedor. Queria participar como técnico do Iraque, e eu aceitei porque via
chances. Se tivessem dado uma condição de trabalho boa, estaríamos hoje numa
melhor condição.
- Como jogador, teve algum
arrependimento? Por exemplo, de ter ido à Copa do Mundo de 86?
- Não que seja
arrependimento. Hoje é fácil dizer "não, não deveria ter ido. Deveria ter
ido operar". Lógico que, para passar o que eu passei, um sacrifício filho
da p.., acordar todo dia às seis da manhã... Uma luzinha batia aqui: "Não
vai, não vai, não vai". Pedi duas vezes pra não ir, não deu, tal...
Acabou... Aconteceu o que aconteceu.
- E como dirigente? Da sua passagem
pelo Flamengo, se arrepende?
- Também não
me arrependo, não. Só me fez cada vez mais me afirmar de que eu não devo ter
cargo nenhum no Flamengo.
- Chega aos 60 anos com essa certeza?
- Sim, não
volto como dirigente. Só faço o que estou fazendo hoje, essa consulta. E se
quiser perguntar. Se não quiser, vou ser torcedor. Se tiver que fazer alguma
coisa para ajudar o Flamengo, como eu estou fazendo agora com a camisa dos 60
anos, como fiz com a pulseira. Qualquer coisa eu faço pelo Flamengo, desde que
seja alguma coisa séria e o Flamengo possa se beneficiar. Agora, no mais,
nenhum compromisso.
- E de ser secretário do governo
Collor, não se arrependeu?
- Não, eu fiz
o meu trabalho. Um trabalho que deu frutos, ajudou a estruturar o esporte
brasileiro. Foram criadas ligas, foram criados patrocínios das estatais. Hoje
você tem a mudança no colégio eleitoral das confederações. Quando um clube ia
votar para presidente da CBF? Quem falava nisso? Lei do passe, uma série de
coisas. O trabalho ficou pronto. Tudo começou
- Depois teve
o Pelé...
- Ele apenas
botou o nome, modificou um item, mas a
lei é a mesma. Fiz um trabalho de oito meses de estudo, de viagens, ver o que
está acontecendo no exterior para adequar aqui, muita coisa apareceu de novo de
uma legislação antiga, arcaica, que não trazia nenhum benefício. E a gente
queria mais. É que muita coisa os caras saem vetando, mas tinha muita coisa a
mais que podia ajudar a área esportiva. E, por incrível que pareça, naquela
época que eu estava lá, a única área que não me aporrinhou foi a do futebol.
Mesmo assim, muitas coisas a gente pôde fazer. Era pelo esporte. Acho que o
Brasil cresceu esportivamente.
- E o que acha que faltou em sua
carreira? Algo que queria ter feito e não fez?
- Jogar as
Olimpíadas.
- Faltou mais isso que o título da
Copa do Mundo?
- Sim, mais. A
Copa é uma disputa. Você jogou e não ganhou. Disputa é disputa, futebol é
competição. Agora, você ser solicitado a voltar para uma categoria em
atividade, precisa jogar, precisa treinar, participa da classificação e depois
não vai convocado por questões políticas, desportivas, médicas, até hoje não
sei... Esse é o problema (NR: Zico participou do Pré-Olímpico, mas não foi
convocado pelo técnico Antoninho para os Jogos de Munique).
- Essa é a grande mágoa da sua vida?
- Sim. Quase
me fez parar de jogar futebol, o que mais amava na vida. Eu ia parar para não
sofrer a decepção que eu vi meus irmãos sofrerem. Eu vi o Edu ser injustiçado e
não ir à Copa de 70, o Antunes ser injustiçado de não ir a uma Olimpíada. Eu
não queria pra mim o que via eles passarem. E foi graças a eles que não parei.
- Nesses 60 anos, de quem sente mais
falta?
- Dos meus
pais e do meu irmão. Meus pais a gente sabe que a vida, os anos passam, é a lei
natural da vida. Mas o meu irmão
(Antunes), que era o cara que praticamente me criou, me protegia... Você perder
com 50 anos é difícil. Foi muito novo, é uma grande perda. Assim como o
Geraldo, um cara que era um grande parceiro, de a gente estar na casa um do
outro. Ele na minha, eu na dele, as famílias... A forma como foi... (NR:
jogador do Flamengo, Geraldo morreu em uma operação de amídalas em agosto de
1976)
- Há pouco mais de um ano você teve
um problema de saúde e ficou internado. Como foi isso? Teve medo de morrer?
- Aquilo ali,
não. A preocupação ali era mais com meu neto. De início, o diagnóstico era
meningite, e eu tinha estado com ele o tempo todo. Por isso havia a
preocupação. Agora, quem disser que não tem medo de morrer é mentiroso. Ninguém
quer morrer, o pessoal quer é viver o maior tempo possível. Essa história de
encontrar com Deus... Que nada! Uma das
maiores mentiras é essa de dizer que não tem medo de morrer.
- Por falar em Deus, boa parte da
torcida do Flamengo chama você de Deus e deseja “Feliz Natal” no seu
aniversário. Isso te incomoda?
- Incomoda. Isso é uma coisa muito
séria. Não gosto de brincadeira com essas coisas...
- Mas não se sente lisonjeado?
- Lógico que
sim. Mas Deus, para mim, é uma coisa sagrada, está em outo patamar no
catolicismo que eu conheci.
- Seus amigos e torcedores te ligam
pra desejar “Feliz Natal” no seu aniversário?
- Brincam, eu
acabo levando na brincadeira, como fazia também no Japão... Lá era
"kamisama", que significa “Deus do futebol”. Mas lá é de uma forma
diferente. É o cara que levou o futebol para lá, que acreditou. Então, para
eles lá, não é o Deus religioso.
- Você tem a preocupação de procurar
se cuidar mais para viver mais?
- Lógico. E
acho que já chego nessa idade assim em função da minha vida até hoje. O fato de
ter sido atleta, e ter sido um bom atleta. Hoje não sou impossibilitado de
nada, tenho os meus exames sempre em dia, tudo funciona. Quando tenho uma
irritação, preocupação principalmente em questão de coração, por causa do meu
pai, que teve que botar marca-passo, e
do meu irmão Antunes, que morreu mais cedo, então eu tenho essa preocupação,
estou sempre fazendo exames. Quando você deixa de ser atleta, se você deixa de
fazer atividade, aí vai e faz um esforço maior, esse é o problema. A gente, por
ser competitivo, acaba exagerando, perde a noção. Esse é o grande perigo do
ex-atleta.
- Este ano será sua despedida no
“Jogo das Estrelas”. O fato de não fazer mais a diferença incomoda?
- O pessoal
até deixa. às vezes é chato por isso. Você está jogando, aí o cara vai deixar,
vai abrir... Aí o outro: "Pô, deixa ele fazer o gol aí..." Então, brincadeira por brincadeira, melhor
aqui na pelada com os coroas. Quando você está ali com os caras mais novos,
eles também gostam. Você vê no sorriso dos caras, o carinho que eles têm por
mim, esse pessoal da nova geração. Eu digo que o grande troféu que eu levo é o
respeito que eu tenho da minha classe. De jogadores, preparadores, técnicos.
Vejo que são sinceros quando falam a meu respeito.
- Acha que as novas gerações sabem
quem foi o Zico?
- Hoje sabem
mais porque estão ligados na internet toda hora. Então o cara sabe. Só não sabe
quem não quer.
- Você é muito
amigo do Roberto Dinamite, e ele está começando a desgastar no Vasco a imagem
dele, que é grandiosa. Chega a conversar com o Roberto sobre isso? Não fala com
ele se é melhor se afastar um pouco? De certa forma, é uma situação parecida
com a sua...
- Não, não
falo, não. Lamento, gosto muito dele. Agora, é o tal negócio. Ele que dá a
canetada, né? É diferente. Ele que é o responsável. Tem que tomar as atitudes
que achar que deve tomar. Eu não sei o que está acontecendo lá. Ali é o poder.
Quando você tem o poder e faz certo, tudo bem. Agora, quando tem o poder e faz
errado, está sujeito a críticas. Torço muito por ele, para que ele dê certo
porque é importante pro esporte que atletas se tornem bons dirigentes. Cada vez
que um atleta vai para um cargo desse e a coisa não funciona, complica. E foi
uma das coisas que acreditei poder dar certo no Flamengo foi ver uma ex-atleta
(Patrícia Amorim), que eu vi crescer, que eu vi caminhar lá dentro... Acreditei
que ela pudesse fazer um bom trabalho ali...
- Acha que se enganou?
- Acabei
errando, fiz a opção errada.
- Se ela te pedisse desculpas,
voltaria a ter relacionamento com ela?
- É difícil
ter um relacionamento, sabe? Vou tratar bem porque é do meu feitio. Educação eu
tenho. Agora, relacionamento, tem certas pessoas que não dá mais pra ter.
- Você falou ainda há pouco de
ex-atleta presidente do Flamengo. Apoiaria o Luxemburgo?
- Hoje não.
- Por quê?
- Porque não.
- O fato de
ele ter se metido naquele problema seu com a Patrícia, aquilo te aborreceu?
- Aquilo não
era problema dele, entrar num assunto nosso. O problema do técnico é cuidar do
time, e não se meter no que fulano e beltrano estão falando, estão
discutindo...
- A amizade ficou abalada?
- Nunca mais
falei com ele. Desde a entrevista dele. E somos compadres. Eu dava carona pra
ele, buscava em casa, deixava em casa. Ele jogou por terra uma amizade de,
desses sessenta anos, uns quarenta anos.
- Voltando à Copa de 1998. Por que
caiu na sua conta o corte do Romário?
- Eu fui
técnico de duas seleções. Eu nunca deixei que diretor, coordenador, presidente,
preparador físico convocasse nem cortasse jogador. Então, eu nunca cortei
ninguém nem convoquei ninguém na seleção brasileira. Quem decide é o técnico,
não sou eu. Tem dez caras cortados, 40
convocados, e eu só participei de um! Então alguém se deixou levar por isso e
sobrou pra mim. Não sei por que caiu na minha conta, talvez por alguns
problemas que tenham acontecido por causa daquelas entrevistas anteriores.
Aquela história de 94 e 82, aquilo é uma chatice sem tamanho...
- Esse assunto te aborrece?
- Claro que
aborrece, a gente não tem nada a ver com isso. A gente nunca deu declaração
falando mal de A ou B. Se o cara quer elogiar a nossa e não quer elogiar a
outra, o que a gente tem a ver com isso? Por que os caras têm que atacar a
gente? Você ataca quem falou, e não a gente... Então a gente era atacado a
troco de nada. Muitas vezes você responde, e fica aquela coisa chata.
- Quem foi o melhor atleta que você
treinou?
- Alex, no
Fenerbahçe.
- E quem foi o melhor com quem você
jogou?
- Pô, aí é
fogo... Vou magoar alguém... Deixa eu ver... Ah, foi o Rei Pelé! Claro que foi.
O cara parece que tem uma outra aura. É um negócio diferente (NR: Pelé reforçou
o Flamengo em 1979 durante uma partida beneficente no Maracanã contra o
Atlético-MG em prol das vítimas de forte enchente em Santa Catarina).
- Acha que alguém possa vir a ser
maior que o Pelé?
- Não. Acho
muito difícil.
- Quando o Zico chorou em derrota do
Flamengo? O Zico já chorou com a torcida?
- Chorei logo
em 76, quando perdi aquele pênalti na final da Taça Guanabara, contra o Vasco.
Quando eu perdi deu uma brochada em todo mundo.
- E o homem Zico, chora?
- Chora, sim.
Hoje até chora mais com facilidade.
- O que te faz chorar?
- Minha
família. Minha mulher, meus filhos, meus netos, meus pais, meus irmãos.
- O Flamengo ainda te faz chorar?
- Faz,
dependendo da situação.
- E pela Seleção, teve um dia que te
fez chorar muito?
- Ah, 82. Foi
quando eu vi meus filhos, aí foi difícil. Mas acho que faz bem...
- Em 1986 você não chorou?
- Não. Fiquei
muito triste.
- O pênalti contra a França foi a
bola que não entrou que você mais queria que tivesse entrado?
- Não. Foi uma
contra a Itália, que pudesse ter feito o gol de empate, essa foi a que mais
lamentei.
- Chegou a ficar na bronca com o
Taffarel porque ele fechou o gol no seu jogo de despedida?
- Claro que
não. Dei graças a Deus de ele vir porque senão não tinha goleiro. Ele era amigo
do Nielsen, a gente pediu socorro, o Higuita na véspera ligou e disse que não
podia vir. Não tínhamos goleiro. Ele pegou o voo de manhã e chegou aqui pra
jogar. Vou reclamar?
FONTE: GLOBOESPORTE.COM
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