terça-feira, 30 de agosto de 2011


O Final de Turno e Os Sentimentos Conflitantes

Buon Giorno, Buteco! Chegamos ao final do primeiro turno do Campeonato Brasileiro da Série A de 2011 a um ponto do Corinthians, com o mesmo saldo de gols e o melhor ataque do campeonato, além do menor número de derrotas, apenas uma única, e ainda temos o melhor e mais decisivo jogador do campeonato (Ronaldinho Gaúcho); porém, com o menor número de vitórias entre os cinco primeiros colocados, que constitui um importante critério de desempate, como sabemos, e, disparado, o maior número de empates, quase o dobro do "vice" nesse quesito, sendo que a única derrota aconteceu na nada boa sequência de quatro jogos sem vitória completada no empate sem gols contra o Vasco da Gama ontem, no Engenhão, no qual o adversário foi, sem dúvida, superior na maior parte da partida, inclusive nas chances de gol criadas. Sentimentos conflitantes. Nada perdido, tudo a conquistar. Excelente campanha, mas muito a mudar.
O jogo de ontem, para mim, foi paradigmático. Dizem que, quando a gente já tem uma opinião formada a respeito de um assunto, só enxerga o que quer, mas eu realmente acho que ontem o Flamengo mostrou qualidades e defeitos que vêm sendo discutidos aqui no Buteco nos últimos meses. Começo pelo primeiro tempo: até a expulsão do Welinton, ou seja, enquanto estávamos em igualdade de atletas em campo com o adversário, o Vasco da Gama já era, inegavelmente, superior, com mais chances de gol criadas. É verdade que o Leonardo Moura perdeu inacreditavelmente uma na cara do gol, mas o Vasco teve outras em maior número sob a batuta do excelente Juninho Pernambucano. Depois da expulsão de Welinton, por pouco o Flamengo não saiu para o vestiário em desvantagem, mas por muito pouco mesmo.
A verdade é que o meio campo do Flamengo não existiu. Bottinelli, que a cada jogo parece piorar, não jogou absolutamente nada; Luiz Antonio parecia não saber o que fazer; Renato Abreu, que Vanderlei Luxemburgo parece não admitir, em hipótese alguma, que não tem aptidão para executar atribuições ofensivas com a frequência que ele deseja, e no esquema que ele insiste em implantar, foi um espectro, e sobrou Willians com sua incansável raça tentando salvar a pátria rubro-negra.
O segundo tempo, para mim, mostrou que Luxemburgo ainda é um grande técnico. Duas substituições perfeitas, as duas que restavam, diante da necessária após a contusão de Alex Silva, e sem zagueiro no banco após a expulsão de Welinton, conseguiu neutralizar o jogador a mais que o Vasco possuía em campo com a entrada principalmente de Negueba, que revezava entre as funções defensiva e ofensiva, puxando os contra-ataques. Quanto ao meio de campo, deve-se dizer o inverso naquele segundo tempo: não se pode reclamar uma vírgula de Renato Abreu, Luiz Antônio ou de Muralha, que foram três guerreiros aplicados e perfeitos taticamente ao se desdobrarem em dois, cada um, impedindo os adversários de dominar o setor. Faltou talento? Sim, faltou aos três; contudo, sob a liderança de Renato, que sem dúvida colocou o coração na ponta da chuteira, o Flamengo equilibrou uma partida que parecia destinada a ter um final trágico.
Mas o que podemos esperar desse segundo turno? O que pode ser feito para acabar com essa sequência de resultados ruins, agora, principalmente, que o Ronaldinho se afastará para servir a seleção? Eu, humildemente, longe de querer fazer sugestões, tenho alguns pontos nos quais Luxemburgo não pode mais insistir, porque a repetição modorrenta e implacável dos fatos produziu caudaloso substrato probatório que somente o mais teimoso (quem sabe por isso ao mesmo tempo talentoso?) de todos os treinadores desde Telê Santana se recusa a admitir:
a) Welinton na zaga: o rapaz não leva a profissão com a seriedade que um zagueiro de um time do porte do Flamengo deve levar. O lance de ontem foi definitivo. Luxemburgo está expondo o rapaz e a sorte da equipe na competição ao insistir nesse evidente erro. Por sinal, Angelim ontem fez uma boa partida contra um adversário que pressionou o tempo inteiro. A depender das recuperações de Alex Silva e David Braz, Angelim e Gustavo são opções, ao lado dos dois, que deveriam estar à frente de Welinton.
b) Renato Abreu como armador: realmente não é possível que o Luxemburgo não enxergue o óbvio. No esquema que ele adota, o tal do losango, com um volante à frente da zaga, e dois mais à frente, um na direita e na esquerda (Renato Abreu), com as funções de marcar e de apoiar, exige de Renato Abreu algo que, pela idade avançada e pela falta de talento, não consegue executar. O meio de campo do Flamengo está cada vez pior no setor criativo e o time já chega a quatro partidas sem vencer. Por que não tentar o esquema com apenas dois volantes e deixar o Renato à frente da zaga, como volante, que é a função que ele sabe executar, do lado esquerdo, ao lado de outro volante ao lado direito?
c) Ainda o meio de campo: aqui será preciso "ter olho" dentro do elenco e sobretudo aquela "conversa de pé-de-ouvido" com alguns jogadores. A começar pelo "portunhol". As atuações de Bottinelli estão cada vez piores e sofríveis. Podem ser bem melhores. Acredito que o treinador possa conversar com o jogador, saber o que se passa, quem sabe lhe transmitindo confiança, mas a verdade é que o Flamengo precisa de uma solução para o setor, agora, principalmente, com a contusão do Thiago Neves. O rendimento do meio campo tem direta influência no desempenho do ataque. Nosso ataque é limitado e tem poucas opções, como sabemos, mas é o mais positivo do campeonato graças, especialmente, a formações ofensivas adotadas em momentos nos quais jogadores como Thiago Neves, Diego Maurício, Bottinelli e Negueba estavam em boa fase e rendendo bem quando entravam. A recuperação dos três primeiros, seja física, seja técnica e psicológica, conforme o caso, é a chave para o Flamengo retomar o rendimento de outrora. E o Flamengo tem que voltar a vencer na próxima rodada.
d) Ataque: todos sabemos que são poucas as opções, mas e aí: Negueba está pronto para ser titular ou deve começar no banco? Observem que a dúvida não é pequena, não é simples. Se for alçado à condição de titular, o treinador deixa de ter uma das armas letais das quais se valeu em várias partidas para mudar o panorama das partidas e vencê-las ao longo do primeiro turno. Além disso, jogadores mais jovens, como Thomaz e Rafinha, apenas para mencionar dois exemplos, estão prontos, como Luiz Antônio, Diego Maurício e o próprio Negueba, para começarem a entrar?
Vamos lá, galera. Gostaria de saber a opinião de vocês, amigos do Buteco. O que o Luxemburgo deve fazer, na opinião de vocês, nesse segundo turno e, principalmente, de imediato para o Flamengo voltar a vencer?
Ricardo Gomes

Há figuras no esporte que, por sua postura, pairam acima das coisas ruinas que as pessoas costumam fazer, principalmente em um meio como o futebol. E é uma pena que justamente uma pessoa com tamanha dignidade seja tão fragilizada em sua saúde, que, jovem que é, tenha, em curto espaço de tempo, sofrido duas vezes do mesmo mal, o que talvez prejudique a continuidade de sua carreira.
Antes de qualquer coisa, estamos todos torcendo pela recuperação do ser humano Ricardo Gomes. Força Ricardo.

Fonte: butecodoflamengo

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